A morada do mal, a crítica: um horror gótico entre medos e maldições

Uma imagem de A Casa do Mal

Em 1938, na pequena comunidade inglesa de Morley Hall, o pastor protestante Linus Forster mudou-se – após ser eleito novo vigário – para Morley Hall com sua esposa Marianne e sua filhinha Adelaide, nascida fora do casamento e a quem ele “vendia” portanto, para sua sobrinha. A relação entre os cônjuges está em crise devido ao seu dogmatismo, mas logo a família enfrentará problemas muito maiores.

A morada do mal, uma sequência de filme

Jessica Brown Findlay e Anya McKenna-Bruce, mãe e filha em The House of Evil

A morada do mal, como o título já sugere, é na verdade ambientada em grande parte em uma casa onde existe uma maldição que remonta a acontecimentos sangrentos de muito tempo atrás, tanto que três anos antes aquelas quatro paredes foram palco de um evento trágico, sabiamente mantido escondido do casal de bispos locais. Este último tenta esconder a verdade a todo custo e logo Marianne começa a ser vítima de perturbadoras visões de morte, enquanto o vigário é abordado por um indivíduo misterioso que afirma saber muito sobre a mansão que agora possui…

Os caminhos do terror

A morada do mal, uma imagem do filme de terror

John Efferman é o vigário atormentado

O diretor inglês Christopher Smith tem uma carreira sem dúvida interessante, mesmo sem nunca ter realmente explodido como as premissas poderiam sugerir. Desde a sua pequena estreia cult, Creep (2004) até ao filme de fantasia negra Peste Negra (2010), o cineasta desvencilhou-se com uma certa variedade dos meandros do cinema de terror, recuperando sugestões de diversas subvertentes com uma verve sempre pessoal. Sua aproximação com o cinema gótico se dá em definitivo com The Dwelling of Evil, título datado de 2020 e disponível no catálogo Amazon Prime Video. Um filme onde se revivem os topoi superutilizados da casa mal-assombrada, com os infelizes protagonistas obrigados a enfrentar uma ameaça de origem sobrenatural, decorrente de situações mais ou menos traumáticas ocorridas nesse local.

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A morada do mal e seus arredores

Casa do mal Jessica Brown Findlay em uma cena

A protagonista Jessica Brown Findlay é vítima de visões perturbadoras

Voltar e avançar no tempo

A morada do mal, uma cena

Uma cena de A Casa do Mal

Os vários flashbacks e a explicação da maldição que paira sobre aquela sinistra residência não são, para ser sincero, muito exaustivos e andam de mãos dadas com as falhas lógicas de uma história que, para abordar as coordenadas pré-estabelecidas, deve em diversas ocasiões pular obstáculos, enfraquecendo finalmente a verossimilhança do contexto. Desde o curtíssimo prólogo ambientado no passado recente até toda a subtrama relativa ao bispo e suas “simpatias políticas”, A Casa do Mal sofre dessas quedas que penalizam o coração central da história em vez de amplificá-lo harmoniosamente. Num elenco igualmente variado e povoado por personagens sui generis – como referi, umas de sucesso e outras menos – brilha Jessica Brown Findlay, capaz de incutir o tormento necessário numa figura vítima não só de uma sociedade patriarcal, mas também daquele marido pronto a fazer voto de castidade absoluta como juramento a um Deus que é vingativo por ele. É uma pena que mesmo essas ideias potencialmente intrigantes não sejam totalmente exploradas, deixando The Dwelling of Evil ambicioso e fascinante, mas nem sempre realizado.

Conclusões

Uma jovem muda-se com a filha e o marido, um pastor protestante chamado novo vigário de uma pequena comunidade inglesa, para uma casa em cujos alicerces está um segredo milenar de um passado trágico, que a Igreja local sempre procurou esconder. O título italiano The House of Evil sugere como esta mansão será palco de acontecimentos sombrios que perturbarão uma pequena família que já luta com problemas na sua intimidade e agora enfrenta “fenômenos paranormais incontroláveis”, assustadores e perturbadores. Um terror gótico cativante, mas imperfeito, onde algumas boas ideias entre elenco e encenação são acompanhadas por um roteiro que não deixa de ter falhas.