The Fall Guy: Ryan Gosling e o grande coração dos dublês

The Fall Guy: Ryan Gosling e o grande coração dos dublês

Stuntman é uma arte tão antiga quanto o cinema. Nasceu e cresceu no cenário circense sob o termo cascadeur, observando a maneira como os acrobatas, em particular, conseguiam lidar com quedas de alturas impressionantes. Nos primeiros vinte anos do século XIX, a palavra dublê assumiu então graças ao entretenimento variado do vaudville ou aos protótipos dos chamados Wild West Shows (como o de Buffalo Bill), reconhecendo efetivamente o profissionalismo desses artistas da dor. O advento do cinema integrou então significativamente a profissão de dublê aos mecanismos de produção da Sétima Arte, aumentando seu uso especialmente nas sequências mais perigosas e impossíveis de serem gerenciadas e filmadas pelos atores protagonistas.

Primeira análise do cara do outono 05

Óculos e chapéu, Ryan Gosling em Fall Guy

Com o tempo, a evolução dos efeitos especiais fez com que o trabalho do dublê mudasse e fosse cada vez mais colocado em segundo plano, pelo menos até a chegada do segundo renascimento do cinema de ação após a época de ouro da década de 1980. Dublê, dublê, dublê: são vários os nomes que definem essa profissão eletrizante, cheia de adrenalina e perigosa, que nos últimos anos tem estado no centro de inúmeros debates sobre o efetivo reconhecimento do valor e da contribuição técnico-artística para o próprio mundo do cinema e que agora David Leitch (dublê, produtor e diretor) decidiu contar histórias com tom meta e romântico em The Fall Guy (leia a crítica) junto com Ryan Gosling e Emily Blunt.

Afirmativo

Primeira análise do cara do outono 01

No set do filme

The Fall Guy não é o primeiro produto audiovisual a destacar o papel do dublê. No passado (sempre naqueles gloriosos anos 80) já The Stunt Man com o saudoso Peter O’Tool ou mesmo Dirty Mary, Crazy Gary de John Hough contribuíram para enobrecer e mitificar a figura do dublê de ação – passe o jogo nas palavras – , até a televisão cult Professione Pericolo, da qual The Fall Guy de Leitch (título original do programa) é uma adaptação cinematográfica gratuita. Curiosidade: o desenvolvimento da série estrelada por Lee Majors e Heather Thomas, que foi ao ar de 1981 a 1986, começou perto do sucesso de bilheteria de The Sunt Man, lançado nos cinemas apenas um ano antes. Na Itália, querendo conectar os dois produtos, ambos foram chamados de Professione Pericolo, o que ainda hoje gera alguma confusão até para cinéfilos experientes. Ao contrário das antigas glórias do gênero, no entanto, o novo The Fall Guy tenta contar uma das profissões mais difíceis e emocionantes do cinema, jogando em constante analogia com uma história de amor e, ao mesmo tempo, explorando os mecanismos de ficção e resistência da própria profissão.

O cara caído

Os protagonistas, Ryan Gosling e Emily Blunt

Quando um dublê é incendiado em um ambiente controlado, ou capotado “oito vezes e meia” com um carro protegido, a certeza de que aquele dublê sai ileso da sequência nunca é completa. Do final da cena ao reinício do trabalho passam-se então alguns segundos em que aguardamos a resposta positiva do dublê, que sem dizer uma palavra simplesmente levanta o polegar para dizer “tudo bem, ainda vivo e ileso”. Um sinal de positivo que é como uma armadura para os dublês, um casaco impenetrável atrás do qual protegem não o corpo, mas o orgulho, demonstrando, consequentemente, a si mesmos e aos outros que são indestrutíveis e reutilizáveis.

O cara da queda 6

Ação completa

A cara do intrépido

Eu não sou ninguém 12 de setembro

Eu sou ninguém: Bob Odenkirk, David Leitch, Ilya Naishuller, Kelly McCormick no set

Em essência, The Fall Guy dá um rosto a quem muitas vezes não o tem no cinema, transformando o corpo em personagem, o objeto no próprio sujeito da história. É dirigido por um dublê, focado em um dublê e voltado com consciência artística sobretudo para dublês (além do público, claro) num momento em que – aliás – a importância dos “dublês” está no centro de diversas discussões relacionadas a seu reconhecimento na temporada de premiações. Olhando especialmente para os sucessos que alguns dublês como Chad Stahelski (John Wick), Sam Hargrave (Tyler Rake), Heo Myeong Haeng (Badland Hunters) alcançaram ao longo dos anos, evoluindo seu conhecimento técnico na direção, o valor real é bastante claro da experiência do dublê para o cinema de gênero, sua qualidade e sua relativa sobrevivência e transformação ao longo do tempo. Pensando no próprio Leitch, há anos o diretor se engaja ativamente na elevação cultural, sindical e profissional dos dublês de Hollywood, pressionando por um reconhecimento efetivo também apoiado pela imprensa do setor, que está cada vez mais unida em pedir, por exemplo, a categoria Oscar. dedicado justamente ao trabalho de dublês.

Com um tom meta-cinemático, entre o cínico e o hilariante, um pouco como Trem-bala e um pouco como The Nice Guys, The Fall Guy consegue cavar por baixo das cicatrizes físicas destes intrépidos trabalhadores, explorando o Colt Seavers de Ryan Gosling. dentro e fora do set, como objeto e sujeito do longa-metragem, para mostrar através do cinema os vícios e virtudes da profissão numa ficção cinematográfica ao mesmo tempo profanando os papéis mais sólidos da Sétima Arte e consagrando aqueles mais frágeis e ocultos. Um verdadeiro hino à resiliência destes profissionais de risco essenciais.