Tito e Vinni a todo vapor, a crítica: animação do Brasil em nome da Bossa Nova

Tito e Vinni a todo vapor, a crítica: animação do Brasil em nome da Bossa Nova

“Era uma casa muito bonita, sem teto nem cozinha. Não dava para entrar porque não tinha chão…” Quantas lembranças tem essa música que ouvíamos quando crianças, e que toda criança, mais cedo ou mais cedo mais tarde, ouviu. É A Casa de Sergio Endrigo, que abre e fecha o filme de animação vindo do Brasil, do qual falaremos na crítica. Vamos falar de Tito e Vinni a todo vapor, no cinema a partir de 11 de abril. Mas o que uma música de Sergio Endrigo faz em um filme brasileiro? Isso faz todo o sentido. Porque La casa foi composta pelo poeta e cantor e compositor brasileiro Vinícius de Moraes, e depois cantada, com letra italiana de Sergio Bardotti, por Sergio Endrigo.

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Tito e Vinni, os ratos protagonistas

O texto de Em Casa fazia parte de uma coletânea de poemas de Moraes, escritos para seus filhos, que foram publicados sob o título A arca (A Arca, ou Arca de Noé). E é justamente a Vinícius de Moraes e aos seus poemas que é dedicado este filme, adaptado para o cinema por Susana de Moraes, filha do poeta. Os dois protagonistas, dois ratos, Tito e Vinni, poeta e músico, são inspirados em Moraes e Tom Jobim, os inventores da Bossa Nova, e da mais famosa canção brasileira, Garota de Ipanema, também cantada por Frank Sinatra ( A menina do ipanema). O resultado é um filme que traz consigo uma peça importante da cultura do país que representa e que tem uma alma musical própria, ainda que, por outro lado, em alguns aspectos deva muito à animação mais mainstream.

Dois ratos e uma arca

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Tito e Vinni – A toda velocidade: uma cena do filme

“Mas foi lindo, muito lindo, na Via dei Matti número zero.” Tito e Vinni cantam a música em um show, sob os holofotes, diante de um grande público. Mas é apenas imaginação. As luzes não são outras senão as de dois vaga-lumes. E Tito e Vinni estão cantando sozinhos dentro da pousada que os hospeda. Tito e Vinni são dois ratos, um azul e outro marrom, que sonham em cantar e alcançar o sucesso. Mas quem deveria sair da toca para ouvir dois ratos? Expulsos da pousada, perdidos as esperanças, os dois ouvem uma voz. É uma voz poderosa e autoritária. É a de Deus: explica a Noé que enviará um dilúvio universal e pede-lhe que construa uma arca na qual, como sabeis, só podem entrar dois representantes de cada espécie, um macho e uma fêmea. Tito e Vinni são dois, mas são dois homens. O que fazer então? Mas isto é apenas o começo.

Aquele design de personagem que lembra Ratatouille

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Tito e Vinni, animação do Brasil

A primeira coisa que chama a atenção é o design dos personagens. Tito e Vinni, em cores e formas, lembram muito os dois protagonistas de Ratatouille, Remy e Emil, um azul e outro marrom. Mas, com o conhecido filme da Pixar, Tito e Vinni a todo vapor tem outro aspecto em comum. Vamos falar da coragem de fazer dos ratos os protagonistas de sua história, animais pouco queridos pelas pessoas (mas amados pelos mais pequenos). Não estamos falando de Mickey Mouse, Tip Mouse, Geronimo Stilton, Jerry ou Speedy Gonzales, todos os ratos antropomórficos, ou pelo menos muito fofos, a que todos estamos acostumados. Estamos falando de ratos, aqueles peludos, um pouco desajeitados, maiores. Obviamente os traços, a expressividade dos olhos, as piadas pastelão os tornam imediatamente simpáticos.

Arca de Noé: uma história que nunca morre

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Na arca… Brasileiro

Personagens curiosos e outros mais óbvios

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Foto de grupo!

A história se presta a uma série de personagens curiosos entrando em cena, ao lado de outros que parecem já ter sido vistos. O leão, o vilão da história, traz à mente Scar do Rei Leão, e as hienas também, inevitavelmente, trazem à mente esse mundo. O elefante nos leva de volta ao Horton e o Mundo dos Quem, os pássaros nos levam de volta ao Rio. Mas também há personagens mais originais: uma barata simpática e tímida, uma lombriga rastafari, uma pulga adolescente e uma mosca excêntrica. O filme transita entre o conto picaresco, o filme de aventura e o musical, e no final aborda obras como Sing.

Animação do Brasil e do mainstream

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Bossa Nova e poesia

É sempre interessante encontrar animações que vêm de outros países do mundo, e que vão além do mainstream das três-quatro casas de animação que possuem o oligopólio dos grandes filmes de animação. Seguindo em direção a outros países, descobrimos que o mundo da animação por um lado tem uma espécie de reverência aos grandes filmes, ousando pouco na concepção dos personagens e remetendo a modelos já conhecidos. Por outro lado, cada país tenta trazer a sua própria cultura para estas obras e tenta criar ambientes diferentes. Nesse sentido, a novidade parece estar nos fundos e na luz do filme: ambientes mais pobres e essenciais, distantes das cidades americanas que agora vemos em todos os filmes, e uma fotografia mais sombria, escura, que dá uma pátina diferente. Para o trabalho. O filme tenta, portanto, ser permeado pelo sentido da música brasileira. E, como já dissemos, faz um excelente trabalho de recuperação cultural. E ainda tem aquela música do Endrigo, que nos fez sentir como crianças de novo.

Conclusões

Como falamos na resenha de Tito e Vinni no Full Rhythm, é um filme que traz consigo uma peça importante da cultura do país que representa, o Brasil, e tem alma musical própria, ainda que, por outro por outro lado, em alguns aspectos, deve muito à animação mais convencional.