Motel Destino de Karim Aïnouz é um filme com as cores certas (e de facto a fotografia brinca com as primárias), contextualizado, porém, num guião que quase parece um bluff. Nesse sentido, o filme, apresentado em Cannes 2024, dá continuidade à experimentação do diretor brasileiro, que alterna diferentes arquiteturas e obras. Basta dizer que em 2023, novamente em Cannes, trouxe Firebrand, drama de fantasia com Alicia Vikander. Certamente mais interessante, porém, é A Vida Invisível de Eurídice Gusmão, de 2019, que passou na Croisette e venceu na seção Um Certo Olhar.
Motel Destino, um noir sombrio e úmido do Brasil
O olhar de Aïnouz, neste caso, estreita muito o campo, optando por um contexto fechado, animado (por assim dizer) por uma série de situações sórdidas e espelhadas, aquecidas e desconectadas, na busca de uma pátina suja, sem contato real com o história colocada em circulação. Com tons tingidos de eros (desajeitado, quase evanescente), enquanto o infortúnio se aproxima, Motel Destino é apresentado com o slogan “tropical noir”. Temos vontade de partilhar o adjectivo, mas infelizmente a boa premissa, que chamaria a atenção, quebra-se logo na primeira esquina, amortecendo o bom ambiente que envolve o filme.
Motel Destino, um noir tropical (colorido mas pouco incisivo)
Iago Xavier e Fábio Assunção
Afinal, os elementos do noir (atípico) estão todos lá. Um crime, uma fuga, um esconderijo, um crime violento, espelhando a narrativa, que nos leva a um hotel de sexo no Ceará, litoral nordeste do Brasil. O protagonista é Heraldo (Iago Xavier), um menino ingênuo, sem arte ou papel, que, após a morte violenta do irmão (em parte por causa dele), se vê mais ou menos forçado a trabalhar para o obscuro motel (se escondendo de um empréstimo local). tubarão), frequentado por swingers e amantes casuais. Aqui, ele iniciará um relacionamento clandestino com Dayana (Nataly Rocha), esposa do dono do hotel de sexo, Elias (Fabio Assunção), com modos, diríamos, ambíguos e pouco educados.
Gemidos e visões animalescas
Particularidade e peculiaridade de Motel Destino é a cenografia, de alguma forma central no clima do filme, que transmite a luxúria e a obsessão, mas também a degradação e perturbação de uma personagem imersa numa viagem voyeurística que, no entanto, nunca começa nem termina. acaba completamente. Em suma, a sensação está ali, apoiada e sugerida, sem contudo ter a capacidade de transformar a sugestão em substância narrativa. Às vezes onírico, quase mágico nas visões animalescas de Heraldo (uma mula, uma cabra), espião daqueles casais que consomem sem prazer, o filme de Karim Aïnouz visa mais a estética neon que tão bem funciona numa determinada perspectiva.
O triângulo do Motel Destino
Conclusões
Motel Destino, questionavelmente apresentado em Competição em Cannes 2023, não consegue garantir uma narrativa correta apesar da estética neon encenada pelo diretor Karim Ainouz. A cenografia faz o seu trabalho, assim como a atmosfera obscura, mas o resto do filme não está pendurado por um fio que inevitavelmente se rompe.
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