A decepção da primavera, o espectro do verão: ainda há amanhã para os cinemas?

Paola Cortellesi em Ainda há amanhã

Ainda não é verão, mas o regresso de Cannes e a chegada de junho são os primeiros passos para a bela estação. Uma temporada que, tradicionalmente, não é comparável ao cinema, pelo menos na Itália. Aproximam-se as arenas de verão, o eco distante dos grandes sucessos de bilheteria americanos, que às vezes chegam ao mesmo tempo e às vezes infelizmente não, os quartos climatizados aos quais nossos concidadãos inexplicavelmente preferem o calor de uma praia ensolarada. Chegamos lá com um clima diferente do ano passado: se 2023 foi o ano da esperança, o verão de 2024 surge no horizonte com as nuvens escuras da ansiedade e da preocupação. Junho começa, deixando para trás o pior maio cinematográfico dos últimos 15 anos. Sim, ainda pior que o de 2021 em plena pandemia, com uma captação total inferior a 25 milhões. Não basta, não pode bastar, mas o que nos espera nos próximos meses?

A triste ilusão dos últimos meses

Barbie 7

Margot Robbie em Barbie

Estávamos iludidos? Fomos ingênuos, otimistas, mas quem poderia nos culpar? Menos de um ano se passou desde a franja do verão passado, com Barbie e Oppenheimer, que confirmou uma tendência iniciada por Super Mario e continuou até o Natal com There Still Tomorrow primeiro e depois títulos de férias, com Wonka e os Milagres de Lucky Red, de The Boy e a Garça e o Dia Perfeito Havíamos nos iludido, sim, de que havíamos saído do pântano dos anos pandêmicos, mas os sinais eram bons e óbvios. Não foram apenas alguns grandes títulos que catalisaram a atenção do público face à habitual falta de receitas de bilheteira, mas uma maior distribuição mesmo nas posições mais baixas do pódio de bilheteira, um claro indício de um regresso da chama para o cinema. Porque, é preciso dizer desde já na nossa análise, havia muitos títulos e eram fortes. E depois o que aconteceu?

O impacto da greve

Duna Parte 2 10

Zendaya em Duna 2

Em primeiro lugar a greve, ou melhor, as greves, porque foram duas e ambas tiveram impacto na indústria cinematográfica americana: os argumentistas, depois os intérpretes, pararam durante semanas que se transformaram em meses, provocando atrasos, adiamentos e movimentos à frente tanto de filmes prontos que não teriam o apoio promocional de suas estrelas (como foi o caso de Challengers, de Luca Guadagnino, que deveria ter inaugurado Veneza 2023, ou Duna – Parte 2, transferido de novembro para o final de fevereiro) e de filmes cujas filmagens ficaram suspensas durante a greve. Se as consequências nas bilheterias de outono e inverno foram em grande parte mascaradas pela presença de tantos títulos fortes, e pelo caso mais único do que raro de Ainda há amanhã, pelo menos em nosso país, as questões estão chegando ao auge agora: é É verdade que já tínhamos títulos agendados para a Primavera, o que, paradoxalmente, poderia ter ajudado a continuar a tendência positiva, mas é igualmente verdade que muitos outros filmes ainda não chegaram. Acima de tudo: a nova Missão: Impossível, inicialmente prevista para junho deste ano e adiada para 2025.

Contudo, não é a única explicação, não pode ser. Porque é verdade que nos meses de primavera faltaram filmes com grande potencial em termos de resposta do público, mas é verdade que os presentes também tiveram bastante dificuldade. Para além de Duna – Parte 2 e Kung Fu Panda 4, têm faltado filmes capazes de atingir um público vasto, com muitos títulos com potencial em termos de estrelas ou marcas de referência, como os próprios Challengers com Zendaya ou Kingdom of the Planet dos macacos, que param em números inferiores aos esperados. Sem falar em Ghostbusters, uma verdadeira decepção em abril, e por último, mas não menos importante, Furiosa: A Mad Max Saga, que chegou em maio após o lançamento em Cannes e até agora não conseguiu encontrar público nem na Itália nem nos EUA.

A situação americana

Furiosa Mad Max Saga 2

Anya Taylor-Joy em Furiosa

O que nos espera neste verão?

A sensação, na verdade, é que neste momento mesmo alguns dos títulos que levaram espectadores aos cinemas no inverno passado não conseguiriam fazê-lo. Esta é a principal preocupação: além dos poucos cinéfilos que sozinhos não conseguem sustentar o sistema, todos os outros estão lutando para encontrar os estímulos que pareciam ter reacendido até poucos meses atrás. Precisamos nos perguntar o motivo, além de montar iniciativas como o Cinema em Festa para servir de incentivo, pensar e tentar identificar o que não está funcionando e, por que não, também analisar o que funcionou para tentar replicar isto.

É preciso, mais do que tudo, acreditar nos filmes, do primeiro ao último, para apoiá-los, valorizá-los, divulgá-los ao público. Ainda mais necessário agora, no limiar de um verão em que não haverá muitos grandes títulos, excluindo Inside Out 2, Deadpool & Wolverine, Alien: Romulus e alguns outros potenciais Blockbusters a caminho, e em que desporto será o master, desde o Campeonato Europeu de Futebol até as Olimpíadas.

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As novas emoções de Inside Out 2

A principal sensação que nos ocorre ao conversar com amigos e conhecidos menos familiarizados com o mundo do cinema é que, sobre muitos títulos, eles nada sabem. Não só ignoram a sua saída, como ignoram tudo o que lhes diz respeito. E se você não sabe, não pode querer assistir a um filme em vez de outro. Está faltando comunicação? Talvez sim, onde as alternativas ao teatro são muito boas na comunicação tanto das suas marcas como dos títulos individuais, da Netflix ao Prime Video, Disney+ e NOW, onde grandes lançamentos como House of the Dragon 2 ou The Rings of the Dragon chegarão entre agora e nos próximos meses poder 2. Mas também falta a vontade de ser intrigado pelos espectadores, aquele apetite pela novidade que voltou a desaparecer, criando um contexto em que até a comunicação é mais difícil. Fica evidente olhando para os resultados do último mês, que só podem ser alcançados com uma combinação de culpas: aqueles que levam os filmes aos cinemas, que deveriam apoiá-los mais, e aqueles que os narram diariamente como nós. Daqueles que, no final, têm que ir olhar para eles na escuridão de uma sala.