Scarface volta ao cinema: 10 segredos do clássico “amaldiçoado” de Brian De Palma

Scarface volta ao cinema: 10 segredos do clássico “amaldiçoado” de Brian De Palma

Filmar Scarface hoje não seria um passeio no parque (e na verdade Luca Guadagnino jogou a toalha, desistindo do remake). A crónica da ascensão e queda do pequeno criminoso cubano Tony Montana está repleta de estereótipos racistas (“Sou um prisioneiro político”, exclama várias vezes um Al Pacino em estado de graça, que vomita raiva contra os comunistas de Fidel Castro enquanto é cortado seus dentes no crime da ilha), sexista (a gelada Elvira de Michelle Pfeiffer passa o tempo cheirando, fumando, bebendo e se olhando no espelho), regional (nem a Flórida nem a comunidade cubana em Miami deram saltos de alegria no caminho eles estão representados) e violência extrema.

Al Pacino é Tony Montana em SCARFACE

Al Pacino é Tony Montana em SCARFACE

A investigação de uma mente criminosa em busca de consagração (“quem tem coragem manda”) é dominada por uma visão niilista que envolve todos os personagens, fazendo de Scarface uma tragédia contemporânea com um final de suspense que não deixa espaço para catarse. Esta é a força de um filme feito contra tudo e todos e repleto de incidentes de todos os tipos antes, durante e depois do seu lançamento (pense na batalha de Brian De Palma com os censores e na controversa recepção de muitos críticos ilustres). Mas o poder do roteiro de Oliver Stone e o carisma histriônico de Al Pacino no papel de Tony Montana, combinados com a coragem diretora de De Palma em enfatizar a violência brutal com movimentos de câmera majestosos, dão vida a uma obra que deixará uma marca na história do cinema. cinema, sublimando a versão de Howard Hawks de 1932 em um filme policial explosivo. Como nem todo mundo conhece os detalhes do conturbado processo, aqui estão 10 segredos dos bastidores do culto de Brian De Palma.

1 – O filme é baseado em uma história real

uma sedutora Michelle Pfeiffer em uma cena de SCARFACE

uma sedutora Michelle Pfeiffer em uma cena de SCARFACE

Scarface é vagamente baseado no filme de Howard Hawks de 1932 que, por sua vez, é inspirado em uma história de Armitage Trail secretamente dedicada à ascensão e queda de Al Capone, cujo apelido era Scarface. O nome do personagem, no filme de Hawks, passa a ser Tony Camonte, líder criminoso de uma gangue de contrabandistas, principal atividade de Al Capone. O filme contém uma cena de acerto de contas com os inimigos de Camonte que lembra o Massacre do Dia dos Namorados de 1929, mas as limitações devidas ao Código Hays obrigaram o diretor a limitar a quantidade de violência presente.

2 – Al Pacino teve danos permanentes (no nariz)

Scarface mudou para sempre a carreira de Al Pacino, mas também o seu nariz. Foi ideia dele fazer um remake do filme de Howard Hawks e ele trabalhou muito para conseguir o papel, preparando-se com um treinador de dialeto para reproduzir o sotaque cubano. Inicialmente, Robert De Niro foi preferido a ele, mas felizmente ele recusou o papel de Tony Montana, deixando-o com rédea solta. O trabalho no set não foi fácil. Durante uma cena tensa, Pacino caiu sobre uma arma que acabara de disparar, queimando a mão esquerda e obrigando o encerramento da produção por uma semana. Mas o principal dano foi no nariz. A lenda de que ele inalou cocaína de verdade no set foi refutada, e cheirar leite em pó e laxantes para bebês por tanto tempo danificou suas vias respiratórias para sempre.

3 – Oliver Stone teve uma recaída durante a preparação do filme

4 – Brian De Palma não foi a primeira escolha

O mundo é meu!  - Al Pacino em cena de SCARFACE

O mundo é meu! – Al Pacino em cena de SCARFACE

Inicialmente, Scarface foi dirigido por Sidney Lumet, que dirigiu Al Pacino no seminal Dog Day Afternoon. A ideia de Lumet é mover a ação da Chicago dos anos 1980 para a Miami dos anos 1980, desviando a atenção do crime ítalo-americano visto e revisado para focar na colorida e barulhenta comunidade cubana, transformando Tony Montana em um imigrante anti-Castro. . Assim, as drogas, na Miami dos anos 1980, tornaram-se o equivalente ao álcool durante a Lei Seca. Infelizmente, de acordo com o próprio Oliver Stone, Lumet odiou seu roteiro: “Não sei se ele alguma vez admitiu isso em público. Posso parecer petulante, mas acho que Sydney não entendeu, embora o produtor quisesse entrar naquela direção.”

Scarface e Al Pacino sobre o impacto do filme: “Não inspirou apenas traficantes”

5 – Miami não é o local principal

Apesar de se passar em Miami, Scarface foi filmado em grande parte na costa oposta, no sul da Califórnia, entre Los Angeles, San Diego e Santa Bárbara. A razão? Depois de revisar o roteiro, o Departamento de Turismo da Flórida e o Conselho de Turismo de Miami negaram licenças para filmar no local por medo de que a imagem da cidade, e de sua grande comunidade cubana, fosse arruinada neste tumulto de armas, tráfico de drogas, gangsters e violência. E assim a produção deu início a um tour de force californiano de 24 semanas, interrompido por uma breve incursão clandestina a Miami para filmar a cena em que Angel, parceiro de Tony, é desmembrado com uma serra elétrica.

6 – Tony Montana leva o nome de um campeão de futebol

Torcedor obstinado do San Francisco 49ers, Oliver Stone nomeou o personagem Tony Montana em homenagem a Joe Montana, seu campeão de futebol favorito. No filme, Tony é chamado de scarface apenas uma vez, em espanhol, por Hector, o colombiano que o ameaça com uma serra elétrica chamando-o de “querido cicatriz”.

7 – Brian De Palma não quis fazer o teste com Michelle Pfeiffer

Al Pacino é o gangster Tony Montana no filme SCARFACE

Al Pacino é o gangster Tony Montana no filme SCARFACE

Em 1982 Michelle Pfeiffer tinha vinte e quatro anos e era uma atriz pouco conhecida, tendo participado de algumas séries de TV e do fracasso Delta House. Brian De Palma não estava nada convencido em confiar-lhe o papel de Elvira Hancock e nem mesmo Al Pacino a queria como esposa de Tony Montana, mas depois de ter examinado atrizes como Glenn Close, que foi a primeira escolha, Sharon Stone, Geena Davis e Melanie Griffith, o produtor Martin Bregman persistiram e depois prevaleceram. É preciso dizer que entre os atores que responderam ‘Não, obrigado’ à oferta de Scarface estava também John Travolta, a quem foi oferecido o papel de Manny Ribera, o braço direito de Tony Montana.

8 – Steven Spielberg dirigiu uma cena de Scarface

Amigos desde o início, Brian De Parla e Steven Spielberg tinham o hábito de visitar os sets um do outro. Spielberg esteve presente durante as filmagens da cena final, o assalto colombiano à mansão de Tony Montana, e seu amigo deixou-o dirigir o plano baixo em que os agressores entram pela primeira vez na propriedade, eliminando um por um os homens de guarda.

9 – Uma enxurrada de palavrões

De acordo com o Family Media Guide, que monitora palavrões, conteúdo sexual e violência em filmes, Scarface contém a palavra “foda-se” 207 vezes, o que equivale a cerca de 1,21 trepadas por minuto. Em 2014, Martin Scorsese mais que dobrou esse número ao colocar 506 filhos da puta em seu O Lobo de Wall Street. Um verdadeiro recorde.

10 – Brian De Palma e a guerra à censura

Mary Elizabeth Mastrantonio em cena de SCARFACE

Mary Elizabeth Mastrantonio em cena de SCARFACE

Durante a fase de edição, Brian De Palma lutou contra o tempo para evitar que a MPAA impusesse uma classificação R a Scarface devido ao seu alto índice de violência e ao uso sistemático de linguagem obscena. O diretor relutou em cortar a cena final e feroz do clímax que é o ponto crucial do filme. Cansado da intervenção da censura, De Palma optou por uma estratégia extrema: jogar na classificação R e depois apelar e fazer barulho. Os cinemas onde seria lançado no dia 9 de dezembro já o haviam anunciado como um filme proibido a menores e ameaçaram retirá-lo dos outdoors caso obtivesse a classificação X, reservada à pornografia ou aos filmes B mais extremos. Por fim, o MPPA cedeu à pressão da Universal e, por 17 votos a 3, concedeu a classificação R solicitada.